São 400 sócios, músicos, atores e correm o risco de ver os seus instrumentos de trabalho “despejados” da sede em que trabalham há 20 anos. Vão desfilar em silêncio este sábado, pela cidade, para dizer “Se os Músicos ficam sem casa, inevitavelmente Faro vai ficar sem música!”. Negócio imobiliário de 36 milhões na origem do despejo.
A intenção é “dar visibilidade à real possibilidade de dezenas de projectos musicais, grupos de teatro, grupos de dança e outros projectos artísticos que se desenvolvem na sede da ARCM, poderem ficar sem este espaço e serem obrigados a ficar na rua com todos o seus instrumentos musicais, equipamento sonoro ou material cénico”, alerta a associação.
A Associação Recreativa e Cultural de Músicos (ARCM) acolhe nas suas 18 salas de ensaio, que foram sendo construídas e equipadas ao longo dos anos, 31 bandas que juntam mais de 150 músicos de todos os estilos musicais.
Um dos projetos em que a associação está empenhada é na prevenção de consumos, atraindo jovens para ali darem largas à sua criatividade, atividade reconhecida designadamente pelo IDT –Instituto da Droga e Toxicodependência.
O representante da ARCM, Armindo Dias, lembra que a sede atual funciona 24 horas por dia e para isso foi feito “um grande investimento. Os miúdos, quando não têm aulas, vêm para aqui tocar”, salienta.
Pela sua sala de espectáculos, já uma referência nacional, passaram muitas das bandas emergentes, não só de Faro como de todo o Algarve e até bandas de outras paragens.
E nem só de música viva a ARCM. Grupos de dança, teatro, colectivos de DJ’s e outras associações, recorrem às suas instalações para desenvolver as suas atividades.
A ARCM é viável e economicamente sustentável, ou seja não depende de subsídios ou de apoios para se manter e proporcionar aos mais de 400 sócios um lugar onde a cultura acontece. Só precisa de uma sede.
Negócio imobiliário na origem do despejo
A empresa Cleber - Sociedade Imobiliária, SA moveu em Janeiro deste ano uma ação de despejo contra a ARCM, alegando que o contrato de arrendamento caducou a 31 de Outubro de 2008, ainda que a renda de 1619 euros/mês estivesse em dia.
O Tribunal de Faro emitiu em Outubro último a sentença, sem haver lugar a julgamento, por considerar que os requerentes tinham razão, decisão de que a ARCM recorreu, alegando, entre outros factos, que o contrato, celebrado com a antiga proprietária do espaço, permanece válido.
Entre os acionistas da Cleber,SA conta-se o Grupo Garvetur, aliás a sede da empresa partilha as instalações, em Vilamoura. No local irão surgir prédios para habitação de luxo, com vista para a Ria Formosa e uma área comercial, que iria ficar nas imediações do futuro embarcadouro a construir no âmbito da requalificação da frente ribeirinha de Faro, referiu ao Observatório do Algarve uma fonte daquela empresa.
Foram já encetadas conversações com a autarquia, quanto à volumetria dos edifícios - baseadas num projeto de intenções -que na zona poderão atingir a cércea do antigo silo ou mesmo dos edifícios Riamar, que estão do outro lado a via onde se localizam os armazéns, adiantou a mesma fonte.
Presidente da AM e promotor imobiliário
Um dos promotores do projeto imobiliário que vai ocupar os armazéns onde está instalada a ARCM e todo o quarteirão junto à estação da CP e o silo da antiga fábrica de moagem, é Luís Coelho, ex-presidente da câmara e atual presidente da Assembleia Municipal de Faro, que assinou a escritura de aquisição dos três armazéns à antiga proprietária por 2,3 milhões, enquanto procurador da Cleber.
O complexo estaria avaliado em cerca de 36 milhões de euros, e o financiamento da operação foi negociado com o Banco Espírito Santo (BES).
Embora reconhecendo “o mérito” da associação de músicos Luís Coelho alega a ação de despejo era incontornável em função dos compromissos bancários existentes. Para os cumprir, a ordem de despejo tem de ser efetivada.
O atual autarca Macário Correia afirmou já publicamente estar "a estudar uma alternativa”, admitindo no entanto que a autarquia não é proprietária de espaços com a necessária dimensão.
Esta sentença, "meteoricamente emitida, deixa novamente a ARCM numa situação trágica tendo em conta que, apesar de bastantes esforços nesse sentido, ainda não há quaisquer garantias de um novo espaço para a continuidade deste projeto", alerta a ARCM.
E quer "avisar a malta e a cidade", através do desfile em silêncio.»
(Noticia: Observatório do Algarve)
A questão das futuras instalações da ARCM depende apenas da boa vontade da Câmara Municipal de Faro e da apreciação política que esta faça sobre o trabalho desta associação. O seu trabalho cultural é ou não importante?
Num negócio imobiliário de 36 milhões de euros, envolvendo a reconstrução de todo um quarteirão da cidade na primeira linha da frente da Ria Formosa, em que o promotor imobiliário terá que negociar índices de construção e cérceas com o actual Executivo Municipal, encontrar uma solução que garanta o funcionamento da Associação Recreativa e Cultural de Músicos é um pormenor.
Se houver vontade política esta talvez seja a melhor oportunidade da ARCM resolver definitivamente o problema das suas instalações.
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