Os estrangeiros a trabalhar na apanha de fruta e hortícolas nos campos algarvios praticamente já superam os portugueses, disseram à Lusa responsáveis de organizações de produtores locais, que admitem a dificuldade em recrutar trabalhadores nacionais.
A preferência por outras áreas como o turismo, comércio ou serviços, a "concorrência" do subsídio de desemprego e o facto de o trabalho no campo ser ainda considerado precário (por ser sazonal) são alguns dos fatores que poderão afastar os portugueses.
A dificuldade é tanta que já houve organizações de produtores a ir a Marrocos para recrutar trabalhadores, contudo, a obtenção dos vistos demorou tanto tempo que quando os marroquinos chegaram ao Algarve já a produção se perdera.
Trabalhadores da Europa do Leste, África e Ásia
A maioria dos estrangeiros a trabalhar nos campos algarvios, em permanência ou na época de campanha, são originários de países do Leste europeu como a Roménia, Ucrânia ou Bulgária, embora haja também marroquinos e até tailandeses.
Em declarações à Lusa, o diretor regional de Agricultura e Pescas do Algarve, Joaquim Castelão Rodrigues, confirma que existe dificuldade em contratar mão de obra nacional para o setor agrícola por muitas pessoas "se negarem" a trabalhar na área.
O presidente da Uniprofrutal, Eduardo Ângelo, estima que em dez pessoas necessárias para apanhar fruta apenas uma seja portuguesa, o que faz com que os estrangeiros representem já mais de metade do total nas explorações agrícolas algarvias.
Para o diretor geral do grupo Hubel, Humberto Teixeira, a maior concorrência não é a de outros setores, mas sim o "subsídio de emprego por si só", já que a tentativa de recrutamento de pessoas inscritas nos centros de emprego sai quase sempre gorada.
O grupo tem como uma das suas áreas de negócio a produção e comercialização agrícola e, através da Madrefruta, congrega produtores que cultivam desde morangos, framboesas, pêssegos ou melancias a tomates, pepinos ou feijão verde.
Em entrevista à Lusa, aquele responsável diz que mais de metade dos selecionados se apresentam "com uma postura de desinteresse" e às vezes até ameaçam os potenciais empregadores, "pedindo que não os selecionem".
"Não existe uma cultura de responsabilidade nos inscritos [no IEFP] que são selecionados para o trabalho na agricultura", diz, lamentando que o sistema atualmente instituído fomente algumas "vantagens na condição de desempregado".
O mesmo problema acontece com os produtores da Cooperativa Agrícola de Citricultores do Algarve (Cacial), que se veem obrigados a recorrer a estrangeiros para não perder as produções, diz Horácio Ferreira.
Segundo disse à Lusa, os poucos portugueses que aceitam trabalhar na apanha da fruta são os que mais faltam ao trabalho, o que não acontece com os estrangeiros, havendo muitos que desistem dias depois do começo das campanhas.
"Se não fossem eles [os estrangeiros], nos dias de aperto não sei o que faríamos", desabafa, sublinhando que enquanto os nacionais faltam ou metem muitas vezes falsas baixas médicas, os estrangeiros até se oferecem para trabalho suplementar.
(Noticia: Observatório do Algarve)
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