domingo, 27 de junho de 2010

NABO DA SEMANA


A semana “horribilis” da Sociedade Polis e a arrogância e prepotência desta entidade pública, detida pelo Estado e pelos municípios de Faro, Olhão, Tavira, Loulé e Vila Real de Santo António, justificam a distinção como "Nabo da semana".  Uma entidade a quem são dados a gerir 87 milhões de euros, até hoje  não foi capaz de trazer à luz do dia um projecto, um plano ou uma simples obra. Esta morosidade é, aliás, estranha e não fica bem com as expectativas lançadas, em 2008, pelo Governo quando anunciou o Polis Litoral Ria Formosa.

Primeiro foi o enchimento artificial de seis praias no concelho de Loulé que motivou protestos por se efectuar durante a época alta e, sobretudo, sem a menor preocupação com o impacto das mesmas nos banhistas. Sem pôr em causa a necessidade desta operação, orçada em 6 milhões de euros, o que salta à vista  é que as máquinas pesadas circulam pelo areal, cruzando várias praias, sem respeito pelos veraneantes.

Por estarmos no Algarve e em pleno Verão seriam necessárias medidas minimizadoras do impacto do enchimento das praias junto dos seus frequentadores, mas não há sinais da mínima preocupação com quem está de férias.

Depois a Culatra.

Seis meses após a inauguração das obras de abastecimento de água potável e do sistema de tratamento de esgotos, mais de 100 casas continuam sem poder instalar o contador e beber água canalizada. A associação de Moradores denuncia que está em causa a saúde pública, uma vez que as pessoas estão a utilizar água de furos (muitos dos quais junto de fossas) inquinados.

É escandaloso.

O Estado, através da empresa Águas do Algarve investiu cerca de 8 milhões de euros para levar água potável até aos núcleos habitacionais da Armona, Culatra e Farol (os hangares ficaram de fora). Foi executada a conduta adutora, o depósito e executados os ramais domiciliários até cada habitação. Falta a instalação dos contadores, única etapa que é paga por cada um dos consumidores.

Mas, precisamente nesta fase, a Sociedade Polis diz à Câmara (o abastecimento de água aos domicílios – sistema em baixa – é uma competência dos municípios) que não pode instalar contadores sem a sua prévia autorização. Seis meses depois mais de uma centena de famílias contínua à espera de poder abrir a torneira.

O silêncio, cúmplice, da Câmara de Faro é, nesta matéria, ensurdecedor.
Pior, a Sociedade Polis veio esta semana dizer que afinal o rigor que dizia impor na análise dos documentos exigidos a todos os moradores a fim de comprovar que efectivamente viviam na Culatra não é definitivo. Isto é, apesar de esperarem meses a fio pela instalação de água nada lhes garante que a mesma não venha a ser retirada e a casa demolida.

É a demonstração plena do "quero posso e mando" e a evidência do absoluto desprezo por aquela comunidade. A verdade é que tanto a Sociedade Polis como o Parque Natural da Ria Formosa nunca entenderam a realidade social da Culatra, diferente dos restantes núcleos habitacionais das ilhas barreira.

A Culatra tem uma vida e uma existência sociológica própria. Existe todo o ano. É uma das mais jovens comunidades piscatórias de Portugal, como se pode constatar pelo número de crianças na Escola Primária e no Centro Social Nossa Senhora dos Navegantes, pequeno para tanta procura. Sim, a Culatra tem serviços e equipamentos públicos: a Escola do 1º Ciclo do Ensino Básico, uma extensão de Saúde, uma creche e jardim-de-infância, uma delegação da Junta de Freguesia da Sé, serviços de limpeza e de recolha de lixo, um Porto de Abrigo para a Pesca e ainda alguma actividade económica privada como minimercados, cafés e restaurantes.

Mas é a pesca a sua principal actividade, trabalho a que se dedicam a maioria dos homens da ilha, cabendo às mulheres a responsabilidade da casa e da família mas, também, a manutenção de viveiros. Possui uma igreja e uma comunidade cristã viva que leva a cabo anualmente uma procissão que enche a ria de cor e cânticos. Um clube de futebol que é a expressão para o exterior do orgulho da comunidade em si mesma. Uma instituição particular de solidariedade social que gere o Centro Social e uma Associação de Moradores activa e reconhecida pelos seus como espaço de aglutinação e luta.

É por serem donos desta dimensão e riqueza social que os culatrenses merecem outro tratamento e respeito por parte da Sociedade Polis. É por serem e se afirmarem farenses que merecem que a sua Câmara não os trate, nem deixe que outros os tratem, como cidadãos de segunda.
(fotografia - Domingos Dias - TrekEarth)

8 comentários:

  1. Se isto é assim na Culatra, nem imagino como será nos Hangares ou no Farol.
    Vai tudo abaixo.

    ResponderEliminar
  2. O que mais impressiona é o silêncio e a falta de solidariedade demonstrada pela generalidade das instituições para com a Culatra. Quem é que se interessa por gente pobre e humilde? Quem é que foi lá falar com os pescadores para perceber o que se passa?
    Ninguem!

    ResponderEliminar
  3. Se é assim na Culatra, onde até o POOC reconhece a existência de uma comunidade, imagine-se o que vai ser nos Hangares, com os pescadores nos extremos da Ilha de Faro e com a parte do Farol que está fora do dominio maritimo-portuário?
    Os pobres não têm direitos!

    ResponderEliminar
  4. O problema é que na Culatra não à VIP's. O único figurão que lá tem casa é o Cabrita Neto mas já não tem poder. Agora vamos ver o que acontece no Farol onde muita gente (de Lisboa, Coimbra, Setubal, Almada, Porto, Olhão) endinheirada e com muitos conhecimentos tem lá casa.
    Aposto que nessa altura a Eng. Valentina Calixto nem vai piar!

    ResponderEliminar
  5. A culatra não conta para esta gente. São pobres e pescadores. Estes falsos ambientalistas da polis e do parque natural só gostam de vilamoura e da quinta do lago que é onde está o dinheiro.

    ResponderEliminar
  6. Não concordo nada consigo.
    Acho muito bem que as casas sejam demolidas. Que direito têm essas pessoas para ter uma casa num espaço público? Gozaram desse previlêgio os anos que gozaram. Agredeçam a borla. Agora acabou-se!

    ResponderEliminar
  7. Se houvesse moral e justiça a administração da polis já tinha sido demitida, com justa causa, por mau governo e desrespeito aos culatrenses.

    ResponderEliminar
  8. E para a CMF, como não se pode construir um condomínio de luxo e não há terrenos camarários para alienar não há interesse!!! O Sr. Engº Macário só está interessado nos investidores... o resto, é o resto...

    ResponderEliminar