Faro: Famílias sem água na cidade

«Banhos em bacias ou com água de garrafões. Condições de higiene poucas ou nenhumas. São estas as precárias condições dos habitantes de cerca de uma dezena de casas do bairro Horta da Areia, em plena capital algarvia, depois de lhes ter sido cortada a água.

Os contadores foram retirados pela FAGAR por falta de pagamento. Os anteriores executivos da Câmara de Faro assumiram durante anos as contas, até que fossem alojados em novas casas. Com a entrada do executivo de Macário Correia as borlas acabaram.

Os habitantes vivem em condições deploráveis. "Sem água isto é uma miséria porque não há condições para tomar banho, fazer comida ou limpezas", desabafou ao CM Maria de Fátima Boguinha, que tem 500 euros de água em dívida, mas não tem dinheiro para pagar. "Estamos a viver com a ajuda das pessoas do centro comunitário que me deixam ir dar banho às crianças", referiu a moradora. Na casa de André Santos, que vive com esposa e dois filhos, "os banhos são tomados numa bacia".

Segundo David Santos, administrador da empresa municipal, "a água foi cortada porque os consumidores não faziam pagamentos". E explicou que "foram emitidos 23 avisos de corte e em 20 casas foram concretizados os cortes porque não foi feito pagamento". Nove famílias mostraram interesse em liquidar a dívida, voltando a ter água. Foram os casos de Rafael Congola e Floriano dos Santos que garantem ter "empenhado fios de ouro para pagar as contas da água".

David Santos acrescentou que "foram detectados pelo menos seis ligações clandestinas" e outras situações, em análise.»
(Noticia: Correio da Manhã)

A decisão de isentar as familias da Horta da Areia do pagamento de água foi tomada pelo PSD no mandato 2001-2005.

Ainda que possa ter tido subjacente algum eleitoralismo esta medida resultava do entendimento de que sendo a habitação uma competência dos municípios e havendo em Faro um conjunto de pessoas colocadas pela própria Câmara Municipal a viver em habitações abarracadas - as casas/barracas da Horta da Areia são propriedade da Câmara de Faro - sem que a autarquia conseguisse, há anos e anos, resolver a situação infra-humana em que vivem, justificava que não pagassem água.

Era uma espécie de beneficio social que aqueles agregados familiares, na sua maioria com baixissimos rendimentos, recebia pela incapacidade da Câmara de Faro em resolver a sua situação habitacional.

Cinco anos depois, o mesmo PSD tem sobre este assunto um outro entendimento e decidiu anular a sua anterior decisão, passando a cobrar o fornecimento de água às familias da Horta da Areia e, acto continuo, a cortar a água a quem não pagasse a factura à FAGAR. Acresce que o projecto do Lotemento dos Braciais, onde estava previsto realojar estas pessoas, está parado desde que o PSD regressou à Câmara de Faro, em Outubro de 2009.

A Horta da Areia e a situação sub-humana em que muitos ali vivem parece estar assim para durar.