quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Polis alicia pescadores a abandonar a Ilha de Faro

«Ir para a cidade, para perto do aeroporto, ficar em casas de madeira ou saírem para Quarteira. São quatro as hipóteses dadas aos pescadores da Ilha de Faro, mas apenas uma os mantém no local onde sempre viveram.

A vida na pesca não está a ficar mais fácil e o caso, para os pescadores da Ilha de Faro, é que ‘o mar está feito num cão’. Pelo menos, a avaliar pelo futuro que parece esperá-los, que pode passar por terem de abandonar a ilha onde muitos sempre viveram.

“Eles propuseram-nos deixar as casas, quem quisesse ia para o Parque de Campismo, em casas de estacaria, ir para Faro, quem quisesse ir para Quarteira o presidente da Câmara disse que arranjava ou então para o Parque de Estacionamento novo”, afirma o porta-voz dos pescadores da Ilha.

Na ilha de Faro há mais de 120 casas que os pescadores garantem ser de primeira habitação, mas no âmbito do processo de requalificação por diversas vezes anunciado, a sociedade Polis está à procura de soluções que para já não comenta nem desvenda publicamente.

Os pescadores souberam-no em Julho, altura em que a sociedade Polis apresentou aos pescadores da Ilha de Faro as quatro propostas de localização, que só esta semana foram vagamente afloradas por um dos elementos na oposição, da Câmara Municipal de Faro, José Vitorino, do movimento Autarcas com Faro no Coração.

“É um escândalo e uma vergonha. A Ilha de Faro era de pescadores que habitavam na zona central. Na década de 50, o poder público obrigou-os a irem para os extremos nascente e poente. Agora, querem demolir as casas e expulsá-los da Ilha", acusou o movimento autárquico liderado por José Vitorino.

Para já Carlos Flor, presidente da Associação para a Defesa e Desenvolvimento da Praia de Faro, garante que apenas 10 pescadores terão acedido às intenções da Sociedade Polis Litoral da Ria Formosa, responsável pelos trabalhos de ordenamento e requalificação da Praia de Faro.

Mas Carlos Flor avisa que o tratamento não foi igual para todos. “A parte poente da ilha tem 86 casas de primeira habitação, só quarenta é que estavam na lista para realojamento”, confidencia. “Já do lado nascente, de um total de 43 só 19 ou 20 é que estavam e muitas pessoas foram notificadas outra vez para esclarecerem dúvidas da Polis, porque não estavam em casa quando foram lá”, acrescenta.

Quanto à saída da ilha, o porta-voz dos pescadores ironiza: “Estão sempre a falar do habitat dos passarinhos, então e o nosso habitat, há pessoas que foram criadas aqui e que têm hoje 90 anos, como é que ficam?”, questiona.

A Sociedade Polis Litoral Ria Formosa não quis prestar esclarecimentos, considerando “não ser oportuno”.»
(Noticia: Observatório do Algarve)

Há nesta noticia ‘um grito de dor’ cujas entidades oficiais, Câmara Municipal de Faro e Sociedade Polis, obcecadas que estão pelo seu modelo de planeamento autoritário, se revelam incapazes de ouvir.

Na Ilha de Faro estão pessoas. Há Homens e mulheres, na sua maioria pescadores, muitos dos quais sempre ali viveram. Confundir isto com casas de férias de Verão é não entender nada.

A ausencia de diálogo e de participação democrática, faz lembrar um falido modelo de planeamento de direcção central, em que uns poucos, dispunham sobre a vida dos outros e decidiam a seu belo prazer sobre a alocação dos recursos públicos.

Ás dúvidas e aos receios justificados dos pescadores, que de um momento para o outro são confrontados com a ameaça de deixar as suas casas e, eventualmente, até mudar de cidade, responde a Sociedade Polis, com o silêncio dos despotas, ‘não é oportuno falar sobre o assunto’.

Parece que a Sociedade Polis, com a cumplicidade da Câmara de Faro, transformou-se num ‘Gosplan’, esquecendo-se que em democracia os cidadãos têm direitos.

4 comentários:

  1. Razão tinha o José Apolinário quando disse que não se podia entregar o Polis a talibans.

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  2. O fundamentalismo resulta sempre no esmagamento dos direitos das pessoas, em particular dos mais pobres e humildes.

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  3. Dispõem da vida das pessoas e das pessoas em si como se fossem objectos. É a tecnocracia em todo o seu explendor.

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  4. A Valentina e o Macário fazem o que querem com total impunidade. Bem quase total, o Vitorino ainda levanta a sua voz para denunciar estes desmandos.
    Mas será que não há em Faro mais homens e mulheres que considerem esta actuação da Sociedade Polis e da Câmara absolutamente condenável.
    Está na hora dos justos quebrarem o silêncio.

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