Nuno Alves e Ida Martins, do Banco Alimentar Contra a Fome do Algarve, traçam um cenário social negro da situação na região, no dia que antecede mais uma recolha nacional de alimentos.
A dificuldade de muitas famílias portuguesas em adquirir géneros alimentícios é uma realidade cada vez mais presente na sociedade.
É contra este flagelo que o Banco Alimentar Contra a Fome (BACF) tenta lutar, um trabalho que é desenvolvido todos os dias, ao longo do ano, recorrendo exclusivamente a trabalho voluntário.
Nos tempos difíceis que correm, Nuno Alves, da Comissão de Gestão do BACF do Algarve, sem medo das palavras, aproveitou para alertar consciências.
“Provavelmente, até há não muito tempo, esta história de não ter comida em cima da mesa ou não ter dinheiro para comprar roupa ou para pagar contas era um problema dos outros. Hoje é cada vez mais um problema da nossa casa“, ilustrou Nuno Alves.
Apesar de não trabalhar diretamente com os destinatários finais dos alimentos que recolhem, os responsáveis pelo BAFC do Algarve estão bem conscientes da realidade regional.
“Há crianças que comem apenas aquilo que lhes dão na escola. Não há comida em casa. E também há casos em que os miúdos comem a refeição principal, mas estão proibidos pelos pais de comer as refeições intermédias, para que os irmãos que estão em casa e não vão à escola tenham comida. Isto é uma realidade do dia-a-dia“, ilustrou Nuno Alves, com emoção.
“O que eu digo a toda a gente, é a minha opinião pessoal e as pessoas entendam como quiserem, é que, nos dias que correm, virar a cara a um voluntário do Banco Alimentar, e não dar nada - por muito pouco que possa parecer, que para nós é sempre muito – se calhar é estar a virar a cara a nós próprios. Porque se nós hoje temos um emprego, amanhã podemos não ter“, disse Nuno Alves.
A campanha de recolha do BACF que decorre este fim de semana vai chegar a todos os concelhos da região e a mais estabelecimentos comerciais, algo que é possível devido ao aumento do número de voluntários. Tudo o que for recolhido na região será, posteriormente, distribuídos por entidades do Algarve e “não segue para Lisboa, como muita gente pensa“.
Além das equipas que estarão na rua, haverá muitos voluntários que estarão afetos ao armazém, situado em Faro, onde se centra a atividade anual do BACF do Algarve.
Aqui, o trabalho durante as campanhas é intenso e dura até bem tarde, mas isso não significa que haja descanso para os que a ele se dedicam diariamente.
“O banco nunca encerra. Nós fechamos às três horas da manhã de segunda-feira, depois de uma campanha, e no dia seguinte, às 10 horas, o banco está aberto, porque já há instituições a carregar“, salientou Ida Martins, da Comissão Logística do BACF do Algarve.
(Noticia: Rua FM/barlavento)
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