terça-feira, 28 de setembro de 2010

Águas do Algarve investem para evitar mortandade de aves na ETAR de Faro

A empresa Águas do Algarve garante que vai tomar medidas que ajudem a evitar a mortandade de aves selvagens na zona da Estação de Tratamento de Águas Residuais Faro/Nascente, uma situação que está a acontecer desde finais de Julho e tem sido frequente nos últimos anos.

Uma das formas encontradas para evitar novos surtos de mortandade, causados, ao que se presume, por botulismo, passa pela contratação de um técnico qualificado, através do Centro de Recuperação de Animais Selvagens (RIAS) da Ria Formosa, “que monitorize as lagoas regularmente e ajude a manter as aves afastadas”, revelou ao "barlavento" a porta-voz da empresa Águas do Algarve.

Esta decisão surgiu no seguimento de uma reunião entre a empresa e responsáveis pelo RIAS, que recolheu nas últimas semanas mais de 160 animais doentes daquela zona, metade dos quais morreram. Haverá ainda outras medidas a implementar.

“Apesar de, por lei, apenas termos de proceder ao corte da vegetação nas lagoas no início da Primavera e do Outono, vamos passar a fazer cortes mais frequentes nesses períodos”, acrescentou a porta-voz.

Esta é uma medida que foi sugerida pelo RIAS, cuja veterinária Carla Ferreira explicou que é uma ação determinante “para desencorajar os animais de nidificarem e colocar os ovos neste local”.

“Assim, mesmo que por lá passem, não se mantém no local por longos períodos”, disse.

Já a monitorização regular das lagoas é fundamental para evitar males maiores. “Para dar um exemplo, as primeiras aves doentes provenientes da lagoa deram entrada no centro a 29 de Agosto, mas havia lá cadáveres com cerca de um mês, tendo em conta o estado de decomposição. Ou seja, já havia animais doentes desde finais de Julho, início de Agosto”, ilustrou a veterinária.

A porta-voz das Águas do Algarve, empresa que gere a ETAR Faro/Nascente, garantiu ainda que unidade “está a funcionar dentro da normalidade”, mas admite que possa ser a origem deste surto.

Segundo a mesma fonte, tendo em conta o que sucedeu noutros anos, o mais provável é que as aves que ingressaram no RIAS tenham sido infetadas com a toxina do botulismo nas lagoas existentes no interior da estação, cuja água ainda sofre tratamento antes de ser lançada no sistema lagunar.

“Nestes locais, nascem e vivem diversas aves. Nas alturas de maior calor, desenvolve-se uma bactéria nas lagoas que as afeta. Isto nada tem a ver com a qualidade da água do efluente, mas com o ambiente das lagoas internas da ETAR”, garantiu a Águas do Algarve.

Apesar destas garantias, o aparecimento das centenas de aves doentes é acompanhada por denúncias de que os efluentes desta ETAR não têm a qualidade imposta pela lei e que poderão estar a causar esta situação.

Também explorações agrícolas, de produção de sal e de aquacultura, vizinhas da estação, se queixam de que as águas depositadas pela unidade de tratamento na Ria Formosa estão poluídas e se apresentam regularmente negras, o que afeta toda a fauna daquela zona, incluindo o peixe e o marisco dos viveiros.

Um dos profissionais do setor, que preferiu manter o anonimato, garantiu ao barlavento que, desde que a ETAR foi instalada naquele local, a biodiversidade quase desapareceu e é cada vez mais difícil manter culturas marinhas.

A porta-voz das Águas do Algarve disse não ter conhecimento de que haja problemas nas explorações vizinhas e lembrou que a empresa herdou a ETAR dos Salgados da Câmara de Faro e, desde então, já procedeu “a inúmeras melhorias”.

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